O estresse e a nossa sociedade do cansaço
Por que o estresse se tornou o principal vilão na qualidade de vida da nossa sociedade atual? Ele, segundo o Ayurveda, é o principal fator de desequilíbrio do nosso corpo e o início do acúmulo de toxinas e consequentemente do surgimento de doenças.
Vá caminhar, medite, respire fundo, coma melhor, faça algo que lhe traga bem estar… múltiplas são as sugestões para aliviar o estresse. Algo que, no primeiro momento, parece ser simples. Mas por que então temos tanta dificuldade em controlá-lo?
Em um contexto marcado por uma sociedade imediatista, não parece estranho querer ver o estresse como algo concreto, que pode ser colocado no microscópio e ser analisado. Isso porque, torná-lo concreto, torná-lo um vírus ou uma bactéria, é ter a possibilidade de existir um remédio para ele. Mas não. O estresse não é algo que você pode colher com uma pipeta. Você não vai encontrar na prateleira da farmácia uma pílula com os dizeres: “mata todo o seu estresse”. E essa é a grande decepção da nossa sociedade. Isso porque, sem essa fórmula pronta, temos que entender que para controlar o estresse basta olhar para nós mesmos, basta entender o que da nossa rotina é gatilho para isso e como podemos melhorar. No entanto, esse processo é algo que demanda tempo e percepção, duas moedas que muitas pessoas não estão dispostas a trocar. E o preço que se paga? infartos, pressão alta, indisposição, falta de energia, cansaço…
Os 3 tipos de estresse
No Ayurveda, o estresse pode se manifestar e se originar em três níveis distintos. Ao identificar em qual deles você está enfrentando mais dificuldades, é possível criar um plano de ação gradual para reequilibrar seu corpo e mente.
1. Estresse Físico
É causado pela sobrecarga dos sentidos e maus hábitos corporais. Causas comuns:
-
Dieta inadequada para seu dosha
-
Excesso ou falta de atividade física
-
Sono desregulado
-
Uso excessivo de álcool, café, tabaco ou alimentos muito condimentados
-
Exposição a poluentes e alimentos industrializados
-
Viagens em excesso, rotinas irregulares
-
Respiração rasa ou acelerada
Soluções sugeridas:
-
Nível fácil: beber mais água, reduzir cafeína, dormir 7–8h por noite
-
Nível médio: ajustar a alimentação segundo seu dosha, fazer caminhadas diárias
-
Nível difícil: seguir uma rotina ayurvédica (dinacharya) consistente e completa
2. Estresse Mental
Relaciona-se ao campo emocional e aos pensamentos negativos. Causas comuns:
-
Conflitos pessoais
-
Relacionamentos tóxicos
-
Crises emocionais ou de identidade
-
Comportamentos repetitivos que causam sofrimento
Soluções sugeridas:
-
Nível fácil: praticar respiração consciente 5 minutos ao dia
-
Nível médio: iniciar a prática de meditação ou journaling
-
Nível difícil: terapia, mudanças profundas em relacionamentos ou estilo de vida
3. Estresse Espiritual
É o mais sutil, relacionado à falta de propósito e à desconexão com a consciência. Causas comuns:
-
Sensação de vazio ou desesperança
-
Falta de propósito claro
-
Falta de momentos de silêncio ou introspecção
-
Dificuldade de conexão com algo maior (fé, natureza, intuição)
Soluções sugeridas:
-
Nível fácil: momentos de silêncio antes de dormir
-
Nível médio: estudar filosofias que promovam o autoconhecimento
-
Nível difícil: adotar práticas espirituais diárias (meditação profunda, rituais, contemplação)
Como começar?
Faça uma autoanálise: qual desses níveis parece mais presente na sua vida hoje?
Liste 2 ou 3 hábitos que estão alimentando esse estresse. Em seguida, proponha a si mesma ações em três níveis — fácil, médio e difícil — para lidar com ele. O objetivo não é resolver tudo de uma vez, mas sim melhorar um pouquinho a cada dia e, com o tempo, ir subindo o “nível de dificuldade”.
Um convite à percepção
O estresse nasce da forma como percebemos a realidade. Ele não está nos eventos em si, mas na forma como reagimos a eles. Cultivar consciência, presença e responsabilidade pelas suas escolhas é o maior antídoto.
Talvez você não encontre um frasco com a etiqueta “cura para o estresse”, mas encontrará dentro de si todas as ferramentas para viver com mais leveza.
E você, qual percepção escolhe cultivar hoje?